[ARTIGO] “A história do gorila da Cadbury”, por Jurandir Craveiro

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A história do gorila da Cadbury

Por Jurandir Craveiro (*)

A ideia de um gorila tocando bateria sózinho em um estúdio surgiu inteira, de repente, na cabeça do diretor de criação, o argentino Juan Cabral. É o que conta a jornalista freelance Jo Caird em The Guardian.

Ela  escreveu um artigo curioso narrando a história deste que é um dos comerciais de TV mais famosos do mundo e o predileto dos britânicos. Veja na íntegra a matéria: “I was basically told: you are never showing this’ – how we made Cadbury’s Gorilla ad.”

Leia a seguir um breve resumo.

Juan Cabral estava trabalhando em outro filme e conversando com a equipe sobre os grandes solos de bateria quando a ideia do gorila tocando lhe ocorreu. Ficou anotada.

Pouco tempo depois, por acaso, o diretor de marketing da Cadbury, Phil Rumbol, passou para a agência Fallon London, onde o Juan Cabral trabalhava, o seguinte brief:  “Eating Cadbury’s chocolate makes you feel good” ou “Comer chocolate Cadbury faz você se sentir bem.”

Jo Caird relata que a Fallon London apresentou o filme “Gorila” uma semana depois, em março de 2007, e o cliente, isto é, Phil Rumbol, amou. E ninguém mais na Cadbury, como conta o próprio Phil:

“When I then shared it with my superiors, it’s fair to say they thought I was mad. They said: ‘Let’s get this right. You want to make an ad that’s three times longer than a normal ad, has got no Cadbury’s chocolate in it and there’s no message?’”

“Quando eu o mostrei o comercial aos meus superiores, é justo contar que me acharam louco. Disseram: ‘Vamos entender isso direito. Você que fazer um anúncio que  é três vezes mais longo do que o normal, não mostra nenhum chocolate da Cadbury e não contém nenhuma mensagem?’”

Essa aleatoriedade do comercial é que o Juan Cabral achava intrigante e atraente. Seria capaz de acender bons sentimentos nas pessoas em prol da marca, defendia Phil dentro da Cadbury

Conseguiram achar “um gorila” convincente no Stan Winston Studio de Hollywood, que havia feito criaturas para o Predator, Jurassic Park e Aliens. Na verdade, era “uma gorila” e foi preciso mexer na fantasia para dar-lhe músculos.

Também foi preciso contratar Garon Michael, um ator que não sabia tocar bateria mas estava acostumado a trabalhar fantasiado. Treinou incessantemente o solo de bateria de In the Air Tonight,sucesso do Phil Collins, até conseguir personificar essa criatura “que havia esperado a vida inteira por aquele momento na vida”, contou Juan Cabral para a jornalista.

Aos cuidados da Blink Productions, as filmagens duraram um dia, a edição dois; e o filme todo, só um mês até ficar pronto. Mas foram necessários outros quatro longos e pacientes meses até ser aprovado internamente na Cadbury e ir ao ar em agosto, no 8º Big Brother do Reino Unido, em 2007.

Os resultados foram excelentes, não só pela reação da audiência televisiva e pelo aumento de 10% nas vendas de chocolates Cadbury no mercado britânico. O comercial também viralizou na internet, foi visto milhões de vezes no YouTube e ganhou um punhado de prêmios, entre eles o Leão de Cannesem 2008.

Juan Cabral, diretor:

“A brand needs to go to the heart and not to the brain. Gorilla is – in those 90 seconds – trying to take you somewhere.”

“Uma marca deve ir ao coração e não ao cérebro. O gorila, naqueles 90 segundos, está tentando levar você a algum lugar.”


(*) Jurandir Craveiro é planejador de marca e comunicação. Foi fundador da agência NBS. É presidente do Conselho Diretor do Instituto Socioambiental, vice-presidente do Grupo de Planejamento (GP) e autor do Blog do Jura.