[ARTIGO] “Se tudo mudou em 500 anos, por que não podemos mudar e continuar a ser índio?”, por Jurandir Craveiro
Em sua primeira campanha para tevê e cinema, o Instituto Socioambiental (ISA) convida os brasileiros a olhar os povos indígenas com respeito, generosidade e sem preconceito.
“Somos os Baniwa, vivemos no Alto Rio Negro, Amazônia. Andamos pelados. Nosso único esporte é caçar. Não temos pátria nem religião. Comemos com as mãos e cortamos o cabelo sempre igual…Isso, pelo menos, em 1.500. De lá para cá, tudo mudou. E, se mesmo assim, você continua a ser ‘homem branco’, porque nós não podemos continuar a ser índio?”.
A pergunta, formulada por um velho líder baniwa, fecha o filme da primeira campanha do Instituto Socioambiental (ISA), lançada esta semana em tevê, internet e cinema. A reflexão resume sobretudo um desafio atual para os mais de 250 povos indígenas existentes no Brasil: enfrentar o racismo e o preconceito que sofrem por terem incorporado hábitos e tecnologias não-indígenas ao seu dia a dia. Como se, para terem suas identidades e seus direitos respeitados, precisassem viver parados no tempo, em um museu.
“Os índios, como cada um de nós, são donos de suas identidades e incorporam o que acharem importante do mundo que os rodeia, sem deixar de ser índios”, afirma André Villas-Boas, secretário-executivo do ISA. “Parte da população criou no imaginário – com a ajuda de livros escolares, inclusive – a figura do índio ‘puro’, o índio mais índio do que os outros, como se aqueles que fugissem desse estereótipo não merecessem ter seus direitos garantidos”, completa Mariana Borga, diretora de criação da J. Walter Thompson, agência parceira do ISA responsável pela campanha. “Queremos quebrar esse preconceito”.
A campanha, filmada em uma comunidade do povo baniwa no Alto Rio Negro, Amazonas, pela Pródigo Filmes, é um convite a todos os brasileiros para olhar os povos indígenas com mais generosidade e respeito. “Estamos felizes de poder ajudar a combater o preconceito que sofremos e que sabemos que parentes nossos em várias partes do País também sofrem, muitas vezes com violência”, diz André Baniwa, uma das principais lideranças da etnia que protagoniza a campanha. “Diante de séculos de contato com os brancos, os Baniwa são um exemplo de resistência cultural”, reforça Beto Ricardo, coordenador do Programa Rio Negro, do ISA.
A campanha chegou à J. Walter Thompson por meio do Planning4Good, uma iniciativa da associação de planejadores Grupo de Planejamento, da qual faz parte Jurandir Craveiro, presidente do Conselho Diretor do ISA. “O insight do preconceito expõe uma questão pouco admitida no Brasil, que é o racismo contra os índios”, diz Craveiro.
O Instituto Socioambiental (ISA) é uma das principais organizações ambientalistas e indigenistas do Brasil. Com 23 anos de existência, o ISA atua regional e nacionalmente para defender povos indígenas, comunidades tradicionais, direitos humanos e o patrimônio cultural, e para valorizar a diversidade socioambiental no Brasil.
Conheça mais sobre a campanha em socioambiental.org/maisindio.
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