[ARTIGO] “Abobrinhas do Trump alimentam campanha da Hillary”, por Jurandir Craveiro
Abobrinhas do Trump alimentam campanha da Hillary
Por Jurandir Craveiro (*)
Cada vez que o Donald abre a boca sai uma besteira preconceituosa, xenofóbica, arrogante, elitista ou francamente imperialista. A campanha da Democrata Hillary Clinton à presidência dos EUA explora a incontinência verbal do Republicano.
É uma atrás da outra. Quando Donald Trump insinua em entrevista que os POWs – americanos prisioneiros de guerra – são considerados heróis só porque foram capturados, e ele prefere os heróis verdadeiros, os soldados que não capturados, Trump ofende os veteranos de guerra e dá munição para a campanha da Hillary. Veja o comercial acima com um ex-prisioneiro dos alemães na II Guerra Mundial.
Assista a seguir a entrevista na televisão, em que o Trump desqualifica o colega Republicano, ex-prisioneiro de guerra, John McCain, que o criticara. McCain foi piloto de combate da Marinha e aprisionado quando seu caça caiu no Vietnã em 1967. Ficou quase cinco anos preso, foi torturado mas sobreviveu, não sem sequelas físicas. Candidato republicano à presidência, perdeu para o Obama em 2008.
Fico imaginando o planejador da equipe de marketing político da Hillary trocando a busca de insights do eleitor americano pela busca de impropérios ou ofensas que o Trump dirige aos distintos segmentos do eleitorado não-branco, não-descendente-de-europeu, não-cristão e não-afluente.
Sabe quando o planejamento prepara um vídeo, por exemplo, com 10 insights sobre o consumidor que podem ajudar a criação e a equipe toda de comunicação a inspirar-se? Pois veja este “10 Horrible Insults From Donald Trump“:
Vivi e estudei nos Estados Unidos em duas ocasiões. A primeira em 1967-68, quando tirei o diploma de High School, morando com uma família em Ohio, no conservador meio-oeste americano. Era a época das revoltas estudantís contra a guerra do Vietnã, que resultaram em violenta repressão, incluindo a morte de alunos pela polícia na Kent University, justamente em Ohio.
A segunda vez foi em 1971, quando obtive o diploma do curso de Planejamento para o Desenvolvimento da Interamerican University Foundation, na Harvard Summer School, na costa leste progressista. Além disso, trabalhei 14 anos na agência de publicidade J. Walter Thompson e estive um número incontável de vezes no Estados Unidos a serviço.
Pois bem, durante todo esse tempo fiz muitos amigos queridos com os quais hoje mantenho relações virtuais e às vezes os reencontro em carne e osso. Felizmente, apenas uma minoria deles votará em Donald Trump, embora um deles, tristemente, tenha me cortado do Facebook, porque me manifestei contra o Trump (na minha própria timeline, não na dele). Enfim, a mesma polarização e radicalização que vemos na política brasileira parece ocorrer por lá e em outras parte do mundo contemporâneo.
Uma das minhas amigas, Marla Dammann Chisholm, que é contra o Trump, divulgou a seguinte reflexão, que eu considero um grande insight de planejamento:
My disdain for Donald Trump has little to do with Republican vs Democrat. It has much more to do with what I was taught growing up about being a decent human being.
Meu desprezo por Donald Trump tem pouco a ver com Republicanos x Democratas. Tem muito mais a ver com aquilo que eu fui ensinada ao crescer sobre ser um ser humano decente.
Um insight, tão simples e singelo e, ao mesmo tempo, tão verdadeiro e poderoso. Marla o encontrou no artigo “Trump Is Everything I Was Taught Not to Be” – “Trump é tudo aquilo que eu fui ensinado a não ser”, de Ken Robert, que se apresenta simplesmente como um americano que gosta de escrever.
(*) Jurandir Craveiro é planejador de marca e comunicação. Foi fundador da agência NBS. É presidente do Conselho Diretor do Instituto Socioambiental, vice-presidente do Grupo de Planejamento (GP) e autor do Blog do Jura.